Associação quer imagem forte
Carla Fernandes, presidente da direcção da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos, em representação da operadora Logic, quer uma imagem forte do sector. A nova associação tem como primeiros objectivos credibilizar e dinamizar o outsourcing logístico, aumentando assim a dinâmica do mercado.
Associação quer imagem forte
Carla Fernandes, presidente da direcção da Associação, quer uma imagem forte do sector … em Revista Logística Moderna , Maio 09.Revista Logistica Moderna
Como surgiu a APOL?
Nos encontros que a Logística Moderna começou a organizar para operadores logísticos, os vários operadores tiveram oportunidade de se conhecerem e trocarem impressões sobre as dificuldades e as necessidades do sector e foi assim que surgiu a ideia de nos juntarmos para falar e para constituir uma associação.
No ano passado, na sequência do Fórum Operadores Logísticos, fez-se uma reunião informal onde estiveram presentes cerca de 11 organizações, as quais mostraram interesse em dar os passos necessários para constituir uma associação. Foi assim que tudo começou.
Desde essa primeira reunião até hoje o que aconteceu?
A formação de uma associação demora muito mais tempo do que se está à espera, pois todos temos uma vida profissional muito preenchida, pelo que há grande dificuldade em colocar mais uma camada de trabalho e tempo em cima dos nossos horários.
O primeiro passo foi definir o que era um operador logístico. Depois, como se trata de uma associação de empresas, foi necessário passar procurações e autorizações para os seus representantes e isso demora algum tempo. Desenvolvemos alguns contactos com a Lógica em Espanha, para perceber melhor quais os passos a serem dados, processo burocrático que demorou praticamente um ano.
O que resultou da recente assembleia-geral da APOL?
Foi eleita a primeira direcção, com mandato de três anos. Todos os órgãos sociais são compostos por três elementos, a direcção nacional é composta pela presidência, que está com a Logic e onde eu assumo esse papel, o secretário é Maria Claro da Keylab e o tesoureiro é Sérgio Soares, da SDF. Na assembleia-geral o presidente é Jorge Franco, da Fiege, o vice-presidente é Cândido Bento, da FCC e o secretário é Ana Falcão, da Frigoservice. No conselho fiscal a presidência cabe a António Sanganha, da Processlog, o relator é José Neto, da Cargolog e o secretário é Ricardo Fulgêncio, da Urbanos.
Quem são os sócios fundadores?
Os sócios fundadores são as empresas que se enquadram na definição de operador logístico e que manifestaram interesse, na assembleia-geral, em fazer parte da APOL. Trata-se de um critério temporal.
Ao todo temos 25 associados. Por ordem alfabética são: Adicional, Agility, Transnautica-Cargolog, DHL, DLS, FCC, Fiege, Frigomato, Frigoservice, Frissul, Keylab, Logic, Norbert Dentressangle, Opertrans, Processlog, Rangel, Slog, Santos & Vale, Schenker, SDF, Sigle, TNC2, Urbanos, Univeg e Warehouse.
Estamos muito orgulhosos do número de sócios já conseguidos.
O que é que a direcção da APOL definiu como prioritário para os próximos três anos?
A nossa principal prioridade é que o sector seja reconhecido e que os operadores logísticos sejam vistos no mercado como alguém que acrescenta valor.
Numa primeira fase vamos apostar muito nessa comunicação do valor e vamos fazê-lo através de acções junto dos nossos associados e da melhoria da informação sobre o sector. É certo que a Logística Moderna faz um esforço grande em termos de informação mas nós queremos trabalhar melhor essa área, porque existem muitas incongruências. Consoante as fontes, o sector logístico emprega 6.000 pessoas ou 14.000, pelo que as diferenças são muito grandes. Há também divergências consideráveis no que respeita a informações sobre volumes de facturação que queremos esclarecer, porque muitas vezes nos volumes de facturação de operadores logísticos há não só facturações de serviços mas também facturações de produto e isso torna a análise mais complexa, pelo que o nosso primeiro objectivo é credibilizar o sector, dando-lhe maior visibilidade.
Estamos a falar de uma comunicação dirigida a quem?
Queremos desmistificar os riscos e perigos do outsourcing, para conseguir alargar o mercado, divulgando a nossa actividade fora do meio da logística. Temos que ser reconhecidos fora do meio da logística e esse é que é o grande desafio.
Já têm planos concretos sobre como fazer isso?
Estamos a trabalhar com uma agência de comunicação, que nos dá o suporte, mas queremos gerar nós próprios informação sectorial e estamos a tentar estabelecer uma parceria com uma universidade para criar essa informação. Estamos também a criar uma parceria com uma grande empresa de auditoria e consultoria do país, para conseguir essa “onda” de informação.
Estamos a falar de uma campanha de marketing?
Não gostaria de lhe chamar uma campanha de marketing, é mais uma campanha de divulgação e informação. Há ainda muitas opiniões negativas sobre os operadores logísticos e a subcontratação logística. É esse ponto que queremos clarificar.
Que outros objectivos têm?
Gostávamos muito de conseguir um selo logístico. Sentimos uma forte vontade dos sócios fundadores nesse sentido, de haver um conjunto de regras e boas práticas que sejam auditáveis e também reconhecidas por quem nos contacta. É um projecto ambicioso e que, em Espanha, demorou cerca de 20 anos a ser conseguido, pelo que se daqui a três anos conseguirmos ter um embrião bem feito já seria um objectivo importante.
Enquanto associação patronal estabeleceram ou vão estabelecer contactos com outras entidades ligadas ao sector? Que entidades são prioritárias nesses contactos?
Naturalmente que as entidades prioritárias para nós são as que estão ligadas a este sector, como a ANTRAM, a APAT, a APLOG, que não sendo uma associação patronal é importantíssima para o sector e também associações que nos são anexas, como por exemplo a APED, em que muitos associados são nossos clientes.
Até ao momento ainda só fizemos alguns contactos informais e vamos começar a fazer pedidos de reuniões e a formalizar esse tipo de contactos.
Que diferença existe entre a APOL e a APLOG?
O próprio nome indica essa diferença: a APOL é a Associação Portuguesa de Operadores Logísticos e a APLOG é a Associação Portuguesa de Logística. A APLOG defende a logística, quer se trate de um operador logístico, de um produtor, de um distribuidor, seja qual o papel no puzzle e tem assim uma visão de conjunto. Às vezes é preciso ter a visão de pormenor e por isso estamos a falar de esferas diferentes.
Neste momento ainda não formalizámos o contacto com a APLOG mas queremos participar em acções conjuntas com a APLOG e dar o nosso contributo para o desenvolvimento da logística. A formação faz muito mais sentido numa associação como a APLOG do que na APOL, já a questão de um selo logístico faz mais sentido numa associação empresarial como a APOL. Não creio que haja qualquer conflito. Os nossos associados são todos associados da APLOG e não creio que o deixem de ser, pelo que não há qualquer tipo de incompatibilidades.
A APOL nasce de uma necessidade, porque sentíamos que a APLOG não podia ser a associação dos operadores logísticos, pois é a associação de todos os logísticos, desde um aluno universitário ao maior distribuidor nacional.
Uma das necessidades frequentemente apontada pelos operadores logísticos é precisamente a falta de oferta de formação profissional, por exemplo para quadros não superiores. Como vê essa área em Portugal, tendo em conta a própria evolução das profissões específicas da logística, hoje muito mais ligadas às novas tecnologias?
Temos uma intervenção prevista e algumas ideias do que queremos fazer, apesar de ainda não termos um plano concreto. Queremos estabelecer algumas acções de formação para quadros, direccionadas para o nosso sector. Além disso também queremos promover acções de formação mais curtas sobre temas relacionados com a actividade mas não directamente logísticos.
“VAMOS APOSTAR MUITO NA COMUNICAÇÃO DOS OPERADORES LOGÍSTICOS”
Qual a vossa relação com a espanhola Lógica?
Nesta fase embrionária já tivemos o prazer de ter cá os responsáveis da Lógica, que nos revelaram toda a disponibilidade para nos dar apoio e para desenvolvermos acções em conjunto ao nível comunitário. Temos também aprendido muito com eles, pois a sua experiência é enorme. Vamos agendar uma reunião brevemente para discutir pontos mais concretos.
Além da Lógica têm mais contactos internacionais?
Alguns associados falaram-nos de outras associações que existem de âmbito europeu e mundial em sectores muito específicos como a logística inversa e a área do frio e iremos estabelecer contactos com essas entidades.
O que é afinal um operador logístico? Quem pode fazer parte da APOL?
O primeiro critério para definir um operador logístico é ser uma empresa privada, com fins lucrativos, cuja principal actividade seja a prestação de serviços logísticos a terceiros. Uma empresa que preste serviços de logística a outra empresa do mesmo grupo e se essa for a sua principal actividade, não pode ser considerada um operador logístico. O nosso crivo é “empresa privada com fins lucrativos que preste serviços a terceiros”.
Não acredito que quem tenha uma carrinha continue a dizer que é um operador logístico e também não acredito que o mercado o veja como tal.
O nível de actividades é muito diversificado. Estamos a falar de empresas que prestam serviços logísticos in-house em outras empresas, que fazem montagens, logística inversa, frio e temperatura ambiente, algumas fazem venda de produtos ou facturação, pelo que há uma série de serviços que são prestados pelos operadores logísticos e, se conseguirmos divulgar bem a actividade, o mercado vai reconhecer facilmente quem é quem. Actualmente isso ainda não é claro para o mercado.
No sector logístico, o Estado tem tido um papel muito pouco presente. Há ainda alguma indefinição com quem tutela esta actividade e há também a falta de uma legislação específica para os operadores logísticos?
Essa é uma das questões que teremos que descobrir: quem será a tutela deste sector. Em termos de legislação, embora ela falte, não é neste momento uma prioridade. Achamos que o principal problema é o mercado e não a regulamentação do mesmo. É evidente que precisamos de clarificar a questão da tutela, pois por vezes há situações que requerem esse interface com o Estado mas não é uma prioridade.
Há muitas áreas de actuação e, actualmente, vamos ter que definir grupos de trabalho sobre as várias iniciativas que lhe estou a referir. Não temos um cronograma muito definido para cada acção, somos ainda uma associação pequena e os corpos sociais são também reduzidos, pelo que temos alguma dificuldade de recursos para poder tratar já de todos os assuntos pendentes. Mas vamos com certeza fazê-lo.
“HÁ AINDA MUITAS OPINIÕES NEGATIVAS SOBRE OS OPERADORES LOGÍSTICOS E A SUBCONTRATAÇÃO”
Parece-lhe que a APOL poderá dar uma nova força aos operadores logísticos junto dos diversos mercados onde operam?
O sector logístico é um exemplo dos sectores que trabalham em mercado aberto, onde a concorrência é feita cara-a-cara. Não me parece que a APOL vá resolver, por exemplo, conflitos entre os seus associados e os seus clientes, até porque não seria eticamente correcta essa situação nem é esse o nosso objectivo. As situações de legislação e de relações mais políticas são algo que vamos ter que construir. Sabemos que vamos ter que percorrer esse caminho mas é algo que vai demorar o seu tempo.
As eleições legislativas deste ano irão dar lugar a uma equipa renovada no Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC). Que prioridades deve ter a nova equipa no que respeita ao sector logístico?
Temos que ser vistos e percepcionados como um conjunto de entidades que permite a optimização dos recursos do país, tanto do número de camiões que circulam nas estradas como de situações de ocupação do território que têm que ser analisadas. A melhoria da gestão dos transportes é uma mais-valia que damos todos os dias ao país e é esse o nosso enfoque: somos organizadores de todo um sector e temos a capacidade de gerir e optimizar vários fluxos, o que deve ser visto como um valor para a economia nacional.
Em relação a reivindicações, nós não vamos por aí nem recebemos, da parte dos nossos associados, qualquer feedback no sentido de reivindicar algo junto da tutela.
O MOPTC é responsável pela apresentação e realização do plano Portugal Logístico. De que forma este plano pode ter impacto na actividade logística nacional?
Vários dos nossos associados têm plataformas logísticas próprias, quer pela sua dimensão quer pelos serviços que oferecem. As plataformas logísticas do PPL serão usadas pelos operadores que assim o entenderem. São uma infra-estrutura que o país disponibiliza, mas há muitos operadores com investimentos recentes na construção das suas próprias plataformas pelo que vai haver uma concorrência do ponto de vista imobiliário mas não do ponto de vista operacional.
O país precisa das infra-estruturas que estão a ser construídas?
Precisa. Precisava delas ainda mais há 15 anos atrás mas agora também serão importantes. Não vamos pensar que o mundo começa ou acaba nas plataformas. Há aqui uma série de infra-estruturas que vão ser usadas por operadores logísticos mas também por outras entidades, como acontece em Espanha, por exemplo.
Estas plataformas são pólos centralizadores e isso vai trazer enormes melhorias em termos de tráfego e de ordenamento do território, além de serem um factor de desenvolvimento do país.
A inter-modalidade começa a dar os primeiros passos em Portugal. Qual a importância que a inter-modalidade poderá ter no futuro da logística no país?
A inter-modalidade será muito importante e toda a relação com os portos também. Se conseguirmos que as empresas olhem para Portugal não como o fim da Europa mas como uma porta de entrada, tal como foi apresentado no projecto Portugal Logístico, isso será um factor de desenvolvimento muito importante mas só será atingido se houver desenvolvimento da inter-modalidade. Nesse campo há muitos players, há transportadores, transitários, agentes de navegação e os operadores logísticos são uma peça do puzzle.
É importante encontrar pontos de ligação com as outras associações do sector para fomentar a inter-modalidade e criar infra-estruturas e meios de a poder fazer. Também sabemos que, quando estamos a falar de distâncias curtas, de mercados locais, não fará grande sentido falar de inter-modalidade mas, para a exportação e importação, ela é crítica. Se conseguirmos potenciar o movimento dos portos nacionais fazendo com que as mercadorias cheguem à Europa através da nossa costa, veremos um salto qualitativo muito grande. Essa é a visão correcta.
O que espera que a APOL consiga alcançar no longo prazo?
Gostávamos de ter um número próximo dos 60 associados. Gostávamos também que a questão do outsourcing não fosse um “bicho de sete cabeças” ou um “papão” e que fosse uma situação clara. Que uma empresa que se instale no país não tenha dúvidas de que o outsourcing da operação logística é a melhor opção. Também queremos que as empresas não usem como justificação o facto de não fazerem outsourcing por desconhecimento, esse é o nosso grande objectivo. Sabemos que nem todo o mercado pode fazer outsourcing mas o desconhecimento ou a desconfiança não devem ser a razão dessa opção.