A logística inversa é quase como carregar no botão rewind (rebobinar) nas operações logísticas, mas com uma grande complexidade envolvida. É muitas vezes entendida, de forma simplista, como a resposta às devoluções de encomendas de clientes finais, mas integra outro tipo de operações. Esta é uma prática que tem vindo a crescer, alavancada na proliferação do e-commerce, e tem associadas uma série de vantagens para os vários intervenientes. Neste artigo ficamos a conhecer um pouco mais sobre a logística reversa.
O que é a logística inversa?
Trata-se uma solução que envolve procedimentos de pós-venda ou pós-consumo. A logística inversa garante o reaproveitamento de produtos que não serviram as expectativas do cliente final ou o descarte adequado de resíduos gerados por bens de consumo que já não têm utilidade. O processo utilizado para a gestão desta recolha e retorno de materiais ou produtos depende muito da natureza do negócio. A estratégia que implica a devolução de roupa, por exemplo, do cliente final ao retalhista, não é a mesma que a recolha de barris de cerveja na restauração para limpeza e reutilização junto dos produtores.
Tipos de logística inversa
Como vimos, existem vários tipos de logística inversa, cujos contornos diferem muito pelo tipo de produto e necessidades. Ainda assim, é possível categorizar 5 atividades distintas de logística inversa. Elas são as seguintes:
- Devoluções. Esta é a atividade mais conhecida, com impacto mais notório no cliente final. A par com o crescimento abrupto do comércio online, cresceram também as devoluções, especialmente no setor da moda. As empresas que lidam melhor com esta operação são as que encaram as devoluções como algo essencial para as estratégias de marketing. A devolução deve parecer o mais simples possível para o cliente final, no entanto, há uma estratégia complexa por trás. Retalhista e consumidor final exigem uma grande transparência em todo o processo, desde a emissão de etiqueta de devolução à entrega no ponto de recolha, monitorização, e finalmente a receção.
- Revenda. Esta é uma extensão da atividade de devolução. Muitas vezes os artigos que são devolvidos não têm qualquer defeito, apenas são devolvidos porque os consumidores não os querem. Mas mesmo não tendo defeito, esses artigos precisam ser testados, acondicionados e contemplados novamente em stock, o que pode ser algo complexo e dispendioso. Então o que muitos retalhistas acabam por fazer é colocar esses artigos no mercado secundário, de liquidação ou também conhecido por mercado de “devoluções de caixa aberta”. Este tipo de negócio cresceu substancialmente nos últimos anos, como reporta a norte-americana CNBC.
- Reparação. Artigos que por alguma razão precisam de arranjo passam também por um processo de logística inversa. No entanto, nem sempre voltam ao mesmo cliente final. Em muitos casos, as empresas recebem o produto, reparam-no e voltam a colocá-lo no mercado como “recondicionado”. Exemplo disso é o setor de dispositivos eletrónicos como computadores portáteis, smartphones ou tablets, à semelhança do negócio de revenda, o setor dos dispositivos recondicionados também tem vindo a crescer consideravelmente e a abranger novas categorias de produto.
- Substituições. Estreitamente relacionadas com as devoluções estão as trocas. Aliás, um processo de substituição inicia com uma uma devolução. Isto acontece quando o cliente final não ficou satisfeito com determinada característica do produto e pretende trocar por outro de outra cor ou tamanho, por exemplo. Para oferecer este tipo de tratamento, os retalhistas devem ter um atendimento dedicado e processos de gestão bem definidos para que a logística inversa possa funcionar em plenitude.
Esta atividade de substituição ou troca também se aplica a casos como o que foi referido acima, da restauração. - Reciclagem. Esta atividade pode estar integrada em todas as outras e é extremamente valiosa. Não é novidade que este é um elemento cada vez mais apreciado pelo cliente final e tem um impacto brutal na notoriedade e reconhecimento das marcas e empresas. Uma gestão correta de resíduos, a escolha por materiais reciclados para embalagens ou mesmo para produtos é um grande extra reconhecido ao longo de toda a cadeia de abastecimento, seja no seu curso normal, seja em logística inversa.
Números que impressionam
De forma a ilustrar o impacto da logística inversa na economia de forma geral, deixamos alguns números avançados pela DHL:
- 380 mil milhões de dólares poupados em custos com materiais, graças à economia circular, apenas na União Europeia, em 2020;
- 644 mil milhões de dólares foi o valor de mercado dos recondicionados em 2020.
- 170 mil milhões de dólares será o valor estimado do mercado de lixo eletrónico considerado pela reciclagem em 2030;
- 158 mil milhões de dólares em encomendas devolvidas durante as festas de fim de ano, nos Estados Unidos em 2021.
Principais vantagens da logística inversa
Tal como o próprio processo, as vantagens da logística inversa começam no cliente final, no entanto, elas estendem-se por toda a cadeia.
Para o cliente final, a possibilidade de devolução oferece mais confiança no momento da compra, especialmente se ocorrer online.
Do ponto de vista da empresa, a principal vantagem é mesmo a notoriedade e confiança conquistada no cliente final. Mas esta confiança traduz-se em valores reais de vendas, uma vez que a facilidade e gratuitidade de devolução tem impacto na decisão de compra. Os especialistas consideram a conveniência das devoluções um dos fatores de decisão mais importantes dos consumidores ao comprar online. Por exemplo, cerca de um terço dos consumidores americanos arrependem-se de compras on-line quando precisam pagar pelas devoluções, relata a DHL.
Para os operadores, esta é uma nova oportunidade de negócio e de otimização das operações. Munidos de softwares de gestão de transporte, de armazém e de stock, a logística inversa pode ser uma dinâmica muito interessante para empresas de logística.
De forma geral, a logística inversa representa uma grande vantagem para toda a sociedade, porque anda de mão dada com valores de sustentabilidade e economia circular.
A logística inversa já é um processo comum, mas tem ainda muito potencial de crescimento no cenário económico atual. Estas práticas contribuem para melhorar o meio ambiente, mas são também uma excelente oportunidade de negócio para empresas e operadores logísticos. Junte-se à APOL como associado e beneficie da partilha de conhecimento e experiências de logística inversa.
Referências bibliográficas:
Mecalux, O que é a logística reversa?, 2018. Acedido em 24 de Abril de 2023.
ASCM, What Is Reverse Logistics?, 2022. Acedido em 24 de Abril de 2023.
DHL, Return to sender? Reverse logistics explained, 2022. Acedido em 24 de Abril de 2023.
Exame, Logística reversa. O que é – e como funciona essa prática, 2022. Acedido em 24 de Abril de 2023.